quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Síndrome da tensão pré-menstrual: pílula nem sempre funciona

Quem amarga a doença ainda sofre na busca por um tratamento eficaz

 




Você sente fortes cólicas dias antes de menstruar, enjoa, tem dor de cabeça, fica irritada e acha que só pode ser TPM? Fique atenta ao que está sentido.

Você pode sofrer da síndrome da tensão pré-menstrual (STEM), que apesar do nome muito semelhante, se diferencia da TPM por causa da intensidade e frequência dos sintomas, que são bem mais acentuados.

"Cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva apresentam algum sintoma no período pré-menstrual, mas 3 a 8% têm sintomas fortes o suficiente para alterar significativamente a qualidade de vida, interferindo no seu trabalho e relacionamento pessoal, o que caracteriza a síndrome", explica o ginecologista da Unifesp Mauro Abi Haydar.

Apesar da gravidade da síndrome, falta um consenso sobre os tratamentos (até mesmo se existe um realmente eficaz) e sobre as causas da doença. Muito disso em razão do próprio diagnóstico, que nem sempre é simples de ser cravado. 
TPM
A presença de pelo menos quatro dos 150 sintomas relatados como característicos da síndrome, durante os cinco dias que antecedem a menstruação por três ciclos menstruais seguidos, indicam uma grande possibilidade da doença.

"Para um diagnóstico mais preciso, os sintomas devem ser avaliados na ausência de qualquer intervenção farmacológica, incluindo anticoncepcional oral. Além disso, substâncias como o álcool, podem dificultar a avaliação da progressão dos sintomas ao longo do ciclo menstrual, por isso é preciso cautela na hora do diagnóstico, afinal, uma dor de cabeça intensa num mês pode ser apenas resultado de cansaço ou estresse momentâneo", explica a ginecologista da Unifesp Carolina Ambrogini. 
Quem tem a síndrome da tensão pré-menstrual sofre com as dores físicas e com as consequências das alterações de humor de que são vítimas. Um estudo realizado pela Faculdade de Enfermagem da USP avaliou 43 mulheres em idade fértil (aquelas com ciclo menstrual regular) e, após um ano de análise, os médicos constataram que mulheres que sofrem de STEM apresentam, em sua maioria, mamas inchadas e doloridas, cólicas e impaciência.

O convívio social também é afetado. As consequências da síndrome no cotidiano feminino abrangem inquietude e respostas hostis às pessoas, interferindo nas relações interpessoais no trabalho, na escola ou em casa, além de brigas sem motivo aparente com os filhos e irritabilidade. 
Cólica
Principais sintomas da STEM
Existem cerca de 150 sintomas relatados como característicos da síndrome, porém, os mais comuns são:

-Afetivos: tristeza, ansiedade, raiva, irritação, labilidade do humor.

-Cognitivos: dificuldade de concentração, indecisão, ideias suicidas, cefaleia, dor no seio, dor articular, dor muscular.

-Neurovegetativos : insônia, sonolência, anorexia, desejo por determinados alimentos, fadiga, alteração da libido.

-Físicos: náuseas, diarreia, palpitação, sudorese, tonturas e vertigens.

-Hormonais: aumento de peso, edemas. 
Pílula, antidepressivos ou vitamina B12?
Encontrar um tratamento eficaz para a síndrome da tensão pré-menstrual é um drama para a maioria das mulheres que busca ajuda.

Em muitos casos, a pílula anticoncepcional costuma ser a saída encontrada pelos especialistas. Mas nem mesmo ela é unanimidade quanto aos métodos indicados. O motivo? A causa do problema, que nada tem a ver com desequilíbrio hormonal.

Para o especialista Mauro Abi Haydar, a pílula não deveria ser recomendada como tratamento da STEM, pois, segundo ele, a causa do problema não está relacionada à disfunções hormonais, mas a fatores emocionais como estresse, pressões e frustrações.

"Não adianta tomar a pílula, se a causa é o estresse ou a perda de um ente querido, por exemplo. É preciso tratar a causa do problema", continua.

O ginecologista acredita que a pílula não tem efeito eficaz no caso da síndrome porque sua função é apenas regular os níveis de hormônio no organismo da mulher, contribuindo pouco com o alívio dos sintomas. "Como a maioria das mulheres que sofrem com o problema tem um ciclo menstrual regular, não é necessário agir sobre os hormônios, e sim nas causas emocionais", afirma.  
Pílula anticoncepcional
Já a ginecologista Carolina Ambrogini acredita que a síndrome pode ter origem fisiológica, além da emocional. Ela explica que existem três níveis da síndrome: leve, quando os sintomas são intensos, mas não chegam a prejudicar a rotina; médios, quando os sintomas são mais fortes e interferem mais no humor do que na saúde física, e grave, como nos casos de pacientes que chegam a desmaiar com tamanho desconforto físico e emocional.

"Para cada caso há um tratamento mais adequado", afirma Carolina. "Para o nível mais leve, a pílula pode funcionar. Ela ajuda a regular os níveis de serotonina, o hormônio da felicidade, amenizando a sensação de solidão e a tristeza. Para quem se enquadra nos níveis médios, a reposição com vitamina B12 é a mais recomendada, pois este nutriente ajuda no transporte e estoque de ácido fólico, combatendo os sintomas da depressão e a anemia. Já nos casos mais graves, a melhor opção é o uso de antidepressivos e a terapia, que ajudam a acalmar agindo diretamente nas causas emocionais do problema", explica. 
E quem já acostumou com a pílula?
Em geral, bastam alguns meses para que as substâncias deixadas pela pílula saiam do organismo deixando de alterar os hormônios.

E quem se trata com a pílula e interrompe o tratamento pode sofrer com os sintomas ainda mais agressivos, o chamado efeito rebote?

"O que pode acontecer é um desequilíbrio hormonal pela ausência da pílula, causando maior irritabilidade e dor, que podem ser confundidos com efeito rebote, mas é uma variação normal, como a de qualquer outro medicamento, e que nada interfere no grau de intensidade da síndrome. Estes sintomas passam dias depois da interrupção do uso", explica Mauro Haydar. 
Pílula anticoncepcional
Adote medidas preventivas Se os tratamentos ainda são pouco eficientes, uma boa medida para amenizar os sintomas é a prevenção. A seguir, três mudanças de hábitos que fazem a diferença:

Alimentação com pouca quantidade de gordura, sal, açúcar e cafeína 
Segundo a ginecologista Carolina Ambrogini, a cafeína (do café, chás e bebidas do tipo cola) aumenta a tensão e a sensibilidade, portanto é contra-indicada para as mulheres que sofrem com a irritabilidade.

Passe longe do sal, que provoca retenção de líquido, caracterizada por inchaços (inclusive nos seios) e sensação de peso. Já os alimentos gordurosos levam ao aumento de peso em mulheres que ficam com mais apetite durante este período. 
Dieta com boas fontes de cálcio e magnésio De acordo com um estudo feito nos Estados Unidos e publicado na revista Archives of Internal Medicine, uma dieta rica em cálcio (leite e iogurte desnatado) e magnésio (espinafre e ervilha) pode aliviar os sintomas da tensão pré-menstrual (TPM).

O levantamento, realizado por pesquisadores da Universidade de Massachusetts, comparou a dieta alimentar de mil mulheres com TPM e duas mil sem o problema. Aquelas sem TPM tendiam a ingerir mais alimentos ricos em cálcio e magnésio.

Segundo os pesquisadores, tanto o cálcio quanto o magnésio ajudam a diminuir is níveis de estrogênio, hormônio que intensifica os sintomas da TPM. A deficiência de magnésio também resulta em fadiga e carência de enzimas envolvidas na produção de energia.

Uma outra pesquisa do Instituto de Psiquiatria da Inglaterra provou que os níveis deste mineral são mais baixos em pessoas que sofrem de depressão.  
A mudança nos hábitos alimentares foi a salvação para a professora Cintia Ferreira, 29 anos, que sofria desde adolescente com dores tão intensas que as fazia desmaiar: "era horrível, meus colegas de escola tinham que me carregar para casa no colo de tanta dor", conta.

"Tomei pílula durante 10 anos e fiquei com o rosto manchado. Um dia me irritei com isso, parei de tomá-la e cortei, por indicação médica, chocolate, cafeína e frituras da minha dieta. De lá para cá, nunca mais sofri com as dores". 
exercícios físicos
Fazer exercícios regulares 
A atividade física melhora o estado psíquico, o humor e o nível de tolerância à dor, em parte, devido à liberação da endorfina, substância que traz uma sensação de bem-estar ao organismo.

O esforço ajuda de duas formas: ativa a produção da serotonina, substância relaxante que ativa o sono e alivia a dor, além de promover uma espécie de massagem localizada, facilitando o retorno do sangue nos músculos contraídos e diminuindo o inchaço nesse período. As atividades mais recomendadas durante o período da TPM são as de baixa intensidade.

"Nessa fase, a mulher sofre grande variações do humor, podendo ainda ter enxaquecas e dores lombares fortes. Por isso, o ideal é evitar atividades muito intensas. Exercícios mais relaxantes, como ioga e alongamento, são os ideais", explica o professor Cassiano Merussi Neiva, pesquisador Chefe do laboratório de Metabolismo e Fisiologia do Esforço, da Unesp. 

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