A população mundial dobrou nos últimos 50 anos e as perspectivas de alcançarmos os 9 bilhões de habitantes em meados desse século, leva-nos a ampliar nossos horizontes do conhecimento médico e nutricional para além das fronteiras dos nossos compêndios. Oitenta milhões de pessoas aumentam esse contingente de demanda alimentar todos os anos, mais intensamente nos países em desenvolvimento. Frente a tamanho desafio, a pergunta aflitiva que nos vem à cabeça é até quando nossos recursos naturais poderão atender as necessidades do planeta?
A crise dos alimentos que vem ocorrendo nesse ano de 2011, de certa forma nos pegou de surpresa, pois pensávamos haver superado a pior crise em 2008 e que tivéssemos aprendido com ela. Infelizmente, a nossa falta de percepção global, em termos de economia, nos impede de entender como a cascata que ocorre com os alimentos, desde a sua produção até a nossa feira e supermercado semanais, pode influenciar nossa economia doméstica. O que é pior, não entendemos que a crise é complexa o bastante para ser resolvida a curto prazo, pois depende do envolvimento de todas as esferas da sociedade e isso não é simples.
A feroz escalada dos preços e suas causas
Os preços dos alimentos vem se elevando de forma nunca vista. Segundo a FAO, órgão das Nações Unidas para agricultura e alimentação, em janeiro, o índice atingiu 230,7 pontos, revelando mudanças drásticas nos preços de uma cesta básica de alimentos composta por cereais, oleaginosas, laticínios, carne e açúcar. Isso significa que estamos passando por turbulências mais fortes que as registradas em 2008, época da pior crise dos alimentos até então vivenciada pelo mundo moderno, espalhando a fome pelo mundo, afetando, principalmente, os países mais pobres.
Se tentássemos rastrear o curso dos nossos alimentos, nós iríamos deparar com as reais influências da escassez e de sua conseqüente elevação dos seus preços. Entenderíamos que atualmente concorrem para esse estado de coisas não apenas o aumento populacional, mas também as grandes dificuldades em se aumentar a produção. Além disso, os grãos passaram a ser convertidos em combustível, numa concorrência desleal com os nossos pratos, pois a economia doméstica não pode pagar os preços dos grãos, agora atrelados aos preços do petróleo. De acordo com Mirian Leitão, "o etanol de milho, de fato, provocou uma reação em cascata. Subsidiado, o milho para produzir álcool ficou mais caro e contaminou os preços do milho tradicionalmente produzido, que tinha custos menores. E foi além: contaminou o preço da soja e do trigo, que competem com o milho. Subiu o preço da ração animal e, assim, elevou o preço da carne."
As influências ambientais não deixam por menos. De acordo com Lester R. Brown, diretor do Earth Policy Institute, em seu último artigo no jornal Estadão, " do esgotamento dos lençóis freáticos à erosão dos solos e às conseqüências do aquecimento global, tudo leva a crer, que a oferta mundial de alimentos provavelmente não acompanhará nossos apetites coletivamente crescentes." As donas de casa não estão totalmente erradas quando resumem a alta dos preços dos alimentos às mudanças climáticas, pois de acordo com os ecologistas, para cada grau de temperatura acima do esperado para a estação, espera-se uma quebra de 10% no rendimento dos grãos. O Oriente Médio árabe passa pela primeira experiência de redução na produção de grãos pela escassez de água e ja se fala em desertização de áreas anteriormente produtivas reveladas pelos satélites.
Tentativas questionáveis para se debelar a crise
As terras estrangeiras passaram a ser cobiçadas por países ricos com o objetivo de atender às suas demandas de terras cultiváveis para produzir grãos. Países como a Arábia Saudita, Coréia do Sul e China passaram a arrendar ou comprar terras em outros países com esse intuito. Os solos escolhidos foram principalmente na África e acabaram sendo negociados por menos de US$2,5 por hectare/ano. Se pelo menos essas transações visassem aumentar a produção de alimentos, elas poderiam ser reavaliadas e vistas como uma possível salvação para a crise. Entretanto, de acordo com o Banco Mundial, apenas 37% desses cultivos serão direcionados à produção de alimentos. A maior parte, entretanto, se destina a produção dos biocombustíveis.
No Brasil, a crise dos alimentos também não pode dar o aval ao desmatamento irresponsável e a degradação do solo. A perda de recursos hídricos e do solo fértil só agravará o problema para as gerações futuras, além de causar o enriquecimento de poucos. Não se trata de optar entre salvar as florestas ou a vida de brasileiros famintos. As pessoas ainda tem dificuldade de entender a guerra entre ambientalistas e ruralistas no Congresso Nacional pelo embate na votação do Código Florestal. Todos eles tem argumentos que parecem coerentes. Mas é do Brasil aprender que pode ser produtivo e cultivar sem degradar. Temos terras férteis, muitas terras Temos gente brava e trabalhadora. Não podemos conviver com os desmatamentos irracionais e criminosos, não podemos tolerar a impunidade dos crimes contra ambientalistas que morrem enquanto tentam defender os recursos naturais que é de todos os brasileiros.
Concordo que temos problemas sérios pela frente,e acho que a sociedades deviam se engajar nisso de forma séria e consciente. Precisamos realmente parar de esperar, porque todos sabemos que seja qual for o problema, sempre virá alguém com a solução. Porque, não olharmos para este Mundo maravilhoso com o olhar de algo que é Nosso e precisa ser por nós cuidado?
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