Fonte: A Gazeta do Povo de 19.04.2011
Estudo mostra que índice de fumantes do sexo feminino no país ficou estável, enquanto no masculino caiu. Já o indíce de obesidade e consumo de álcool cresceu.
As mulheres brasileiras estão mais obesas, bebem muito e não conseguem diminuir o consumo de cigarro, segundo a pesquisa Vigitel, do Ministério da Saúde, que analisa estatísticas sobre fatores de risco para doenças crônicas. Entre 2006 e 2010, o porcentual de tabagismo feminino se manteve estável, mas o abuso de álcool subiu 30% e o índice de obesidade saltou de 11,4% para 15,5%. Os homens, ao contrário, conseguiram um desempenho melhor. O estudo revela um quadro preocupante para a saúde da mulher. Para especialistas, estresse e rotina são os principais fatores para os maus resultados.
Independentemente do sexo, a tendência de queda no consumo de cigarro se manteve e os ex-fumantes são maioria, com 22%, contra 15% de quem fuma. Há 22 anos, este porcentual era de 35%. “O Brasil é um exemplo no combate ao tabagismo. Medidas regulatórias, como a proibição da propaganda de tabaco e advertências nos maços de cigarro, são muito efetivas e explicam essa importante redução no consumo do cigarro”, afirma Deborah Malta, coordenadora de Vigilância de Agravos e Doenças Não Transmissíveis da Secretaria de Vigilância em Saúde do ministério.
Apesar dos bons resultados, as campanhas antitabagismo parecem surtir menos efeito no sexo feminino, já que desde 2006 o número de tabagistas mulheres está estacionada em 12,7%, contra uma redução de 11% entre os homens. Há estudos que revelam que a dependência da nicotina pode ser mais forte entre elas.
Professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e integrante da Sociedade Brasileira de Pneumologia, Ana Luísa Godoy Fernandes afirma que alguns estudos apontam que os homens conseguem deixar de fumar com mais facilidade. Não há uma explicação única para este fato, mas há ligações com o estresse, múltipla rotina e emagrecimento.
O consumo de álcool é outro fator preocupante, já que um a cada cinco entrevistados pelo Ministério da Saúde declarou abusar de bebidas alcoólicas. O valor cresceu 12% desde 2006. Entre as mulheres, o crescimento foi seis vezes superior ao observado entre os homens.
O excesso de peso e obesidade também mostram que a situação das mulheres é alarmante. Em 2006 não havia diferença entre sexos no quesito obesidade. Em 2010, as mulheres estão um ponto porcentual à frente dos homens. Atualmente metade da população brasileira está acima do peso, o que mostra uma inversão no quadro nutricional do país, que antes tinha apenas um pequeno grupo nesta situação. Para o Ministério da Saúde, o Brasil segue uma tendência mundial de aumento da obesidade devido à alimentação inadequada aliada ao sedentarismo.
Complicações
O exagero no álcool e no tabaco entre as mulheres pode ser mais danoso do que nos homens. O cigarro, por exemplo, aliado aos anticoncepcionais traz complicações cardiovasculares e trombose. Já o álcool, quando utilizado em qualquer quantidade durante a gestação, pode causar sérios danos ao desenvolvimento do bebê.
O pesquisador José Mauro Braz Lima, coordenador do Programa de Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, afirma que o desenvolvimento da Síndrome Alcoólica Fetal pode inclusive criar propensão à dependência química nos filhos.
Lima acredita que os dados apresentados pelo Ministério da Saúde em relação ao abuso de álcool podem estar subestimados, já que entre adultos jovens a tendência de exagero é maior. Ele lembra que o álcool etílico é uma substância tóxica para qualquer organismo vivo e atribui o crescimento do consumo à ampliação do mercado econômico de bebidas no Brasil.
Clínico-geral e professor da Universidade Federal do Paraná, Niazy Ramos Filho argumenta que a mulher passou a competir com o homem no mercado de trabalho e acabou incorporando maus-hábitos. “A mudança do papel da mulher na sociedade trouxe conseqüências negativas para a saúde.” Ele lembra que antes elas estavam menos suscetíveis a doenças do coração e AVC.
15% da população não faz exercício
A pesquisa faz um alerta sobre o riscos da falta de exercício e da má alimentação dos brasileiros. O sedentarismo é medido pelos 15% da população que não praticam nenhuma atividade física e pelo número de horas passadas em frente à televisão. Atualmente, quase uma a cada três pessoas assiste tevê mais de três horas por dia.
A nutrição do brasileiro está se transformando e hoje quase 20% da população consome cinco ou mais porções diárias de frutas e hortaliças. Apesar disso, o porcentual de quem consome refrigerante cinco vezes na semana chega a quase 30%. Além disso, os brasileiros estão comendo menos feijão e mais carne gorda. De forma geral, quanto maior a escolaridade mais saudável é a alimentação.
Professora de Nutrição da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Ana Cristina Miguez afirma que o combate à obesidade e incentivo à boa alimentação são desafios em todo o mundo. Ela afirma que, neste ponto, o Brasil está em vantagem por ter programas de incentivo à agricultura familiar.
Ana Cristina lembra que em Curitiba, por exemplo, há “sacolões” para compra de frutas e verduras a preços mais baixos e também academias de ginástica para a terceira idade. Ela argumenta que o Brasil está passando por uma transição nutricional e que o quadro de obesidade e excesso de peso traz complicações de saúde pública e econômicas.
Leia outras matérias relacionadas
Leia outras matérias relacionadas
Um comentário:
O problema do consumo de álcool e tabaco entre as mulheres, está diretamente ligado a falta de combate a estas porcarias, por parte das autoridades.
Campanhas na TV são muito legais, mas, não surtem os efeitos práticos que deveriam surtir ...
André Miranda.
amrabugento.blogspot.com
Postar um comentário