quarta-feira, 17 de junho de 2009

A Influência (O Assunto é continuação dos anteriores)

ARTIGO CIENTÍFICO

Influência

*Stephen M. Collins
O eixo cérebro-intestino tem sido visto como o sistema bidirecional de comunicação
Neurohumeral e tem sido envolvido na patogenicidade do distúrbio funcional do sistema gastrintestinal, como a Síndrome do Intestino Irritável (do inglês Irritable Bowel Syndrome – IBS). Essa condição é acompanhada de co-morbidez psiquiátrica em mais de 60% dos casos.
Trabalhos recentes demonstraram que um subgrupo de pacientes com IBS apresentam evidências de baixo grau de ativação imune e inflamatória na mucosa colônica. Em alguns
pacientes, a infecção bacteriana aguda é o gatilho para o aparecimento da IBS (IBS pós-infecção) e este é acompanhado de inflamação de baixo grau e aumento de permeabilidade intestinal, assim como alterações na sensitividade visceral e motilidade. Essa condição
é crônica com sintomas durando mais de oito anos em alguns casos. Fatores psicológicos, como estresse e ansiedade, aumentam o risco de IBS pós-infecção e esses pacientes também têm alta co-morbidez psiquiátrica. Nosso trabalho está focado no papel da microbiota intestinal em preservar um baixo grau de inflamação, distúrbios da função intestinal e mudanças no comportamento em ratos.

Estudos iniciais mostraram que a indução experimental da inflamação de baixo grau na mucosa resulta em alterações significativas na função intestinal neuromuscular e essas alterações, em alguns casos, persistem depois da recuperação da inflamação aguda em resposta à infecção. Estes estudos envolvem ratos infectados com o parasita nematódeo
Trichinella spiralis. Neste modelo, alterações persistentes na fisiologia intestinal são devidas ao aumento da expressão da ciclo-oxigenase-2 (COX-2) e foi acompanhada de redução acentuada de lactobacilos. O tratamento do rato depois da infecção com Lactobacillus paracaseii resultou na normalização da fisiologia intestinal. Essas descobertas sugeriram
um papel da flora intestinal na preservação da função intestinal após a infecção.

Para investigar isso a fundo, examinamos o efeito de desequilíbrio da flora intestinal dos antibióticos, além do efeito na inflamação e fisiologia intestinal. Utilizamos um regime antimicrobiano triplo por 10 dias e examinamos a flora intestinal, a percepção da dor e o estado
inflamatório do cólon. Sob condições normais, o intestino está no estado controlado ou inflamação ‘psicológica’ e parte da resposta está restrita à presença da bactéria comensal. Houve uma redução de lactobacilos e um pequeno, mas significante, aumento na atividade inflamatória, como reflexo da atividade da mieloperoxidase (MPO) no cólon, com o uso contínuo de antibiótico. O aumento do MPO não foi acompanhado por danos estruturais à mucosa colônica.

Também houve aumento nos sensores neurotransmissores da substância P e CGRP no cólon e uma tolerância reduzida da distensão colorretal por pequenas bolhas de cateter. O tratamento com Lactobacillus paracaseii concomitantemente com o antibiótico apresentou alterações em todos os parâmetros. Juntos, esses resultados indicam que a perturbação
da flora intestinal resulta em pequenos aumentos subclínicos da atividade inflamatória e alterações na fisiologia intestinal, incluindo hiperalgesia visceral. Baseando-se nessas descobertas em modelos de ratos, a perturbação da flora intestinal (disbiose) é um suposto mecanismo para a disfunção intestinal em IBS.

Utilizando análises exaltadas, os estudos clínicos mostram alterações no perfil de fermentação em pacientes com IBS, incluindo mulheres com depressão em estágio inicial, sugerindo que há
disbiose nessas condições. Recentes trabalhos mostraram que, usando a amplificação 16s RNA, há evidências de alteração na microbiota em pacientes IBS, e é notada novamente uma redução nos lactobacilos. Outros estudos mostraram instabilidade na microbiota ao longo do
tempo, mas infelizmente esses estudos não correlacionam alterações na flora com sintomatologia.

Uma importante pergunta não respondida é se a perturbação da flora intestinal influencia no comportamento, considerado na co-morbidez psiquiátrica verificada no distúrbio gastrintestinal funcional. Estudos clínicos relacionam a depressão com o perfil alterado de fermentação,
e a correlação desses perfis por meio da manipulação da dieta resultaram no melhoramento do humor. Estudos animais compararam respostas de comportamentos em ratos livres de germes e controles colonizados por SPF. A pesquisa mostrou que os ratos jovens livres de germes
exibiram uma resposta pituitária do hipotálamo (HPA) exagerada ao estresse. Isso pode ser relacionado à colonização na flora de ratos SPF, mas somente em ratos jovens. Esses estudos indicam que a flora intestinal influencia na marcação da HPA em resposta ao estresse nos primeiros meses de vida. Até o momento não existem estudos publicados sobre a flora e o comportamento em ratos adultos, mas resultados preliminares de tais estudos desenvolvidos
serão discutidos.

*Stephen M. Collins é pesquisador
da McMaster University,
Hamilton, em Ontario, no Canadá

Um comentário:

Sofia Ramos! disse...

Estou com uma saudadona de você.
Tanta coisa legal pra ler..
Vou tirar um tempinho e ler atualizaçoes desse bloguinho tão querido.
Bjs!